Partida do Fim, 2023
Gabinete Giefarte

Neste sentido, o título “Partida do Fim” assume, desde logo, precisamente o lugar que Wittgenstein conferiu aos ‘jogos de linguagem’. A ‘partida’ é, por definição, o lugar do início, do princípio, e congrega uma ideia clara de tempo e espaço – é simultaneamente o momento em que tudo começa, precisamente no lugar onde tudo começa. A inversão na proposta semântica de Diogo Bolota aproxima e comprime o tempo e o espaço, de forma a assinalar a exposição como um instante. Esse instante em que o princípio e o fim estão aceleradamente próximos, podendo constituir-se como uma espécie de portal de passagem para o que poderá estar para lá desse ‘fim’.

O isolamento da bola branca, que assinala normalmente o fim do jogo – e tradicionalmente a assumpção de um vencedor e de um vencido – parece marcar definitivamente uma circularidade: o fim dá lugar a um novo início que dará, inevitavelmente, lugar a um novo fim. A vitória dará lugar à derrota que permitirá novamente uma vitória. E é precisamente apoiado neste sistema especulativo de recompensas que o jogador  se permite continuar a jogar.

Ana Anacleto, O jogador e o seu (im)permanente sistema de recompensas, 2023 [Excerto]



O que Diogo Bolota projeta para o Gabinete Giefarte é também uma encenação. Um exercício de imitação da vida. Um jogo a que chamou Partida do Fim, onde coloca o espectador no confronto entre o determinismo, jogar sobre as regras e o livre arbítrio.

As regras são claras, dois jogadores, quinze bolas numeradas e uma bola branca. As sete primeiras são as bolas chamadas lisas, as últimas sete são listadas. O objetivo do jogador, no seu turno, é acertar as suas bolas num dos seis buracos existentes na mesa, sem cometer falhas. Uma falta significa uma penalização e por consequência permite ao adversário a vantagem, ainda que momentânea. A bola oito é preta, está no centro da jogada; embora feche a partida, no contexto da exposição tende ao infinito – um fecho de jogada que talvez para o artista seja sinónimo de um recomeço, um reiniciar e não um ponto final.

Frederico Vicente, Partida do fim: um jogo de palavras, uma armadilha de sentidos, 2023 [Excerto]


Fotografias: Maria Leonardo Cabrita